sexta-feira, 13 de março de 2009

“Bate-coxa” no Zanzei com o Trio Candieiro



Tem mineiro e carioca na história, mas o som que sai nos remete ao topo do Brasil. Cutia, Lelei e Lango Lango (traduzindo, Rodrigo, Vanderlei e Fabiano), formam um dos trios de forró mais conceituados do Rio. Fundado na Feira de São Cristóvão, o Trio Candieiro já faz shows por várias cidades do país. Depois do lançamento do primeiro CD, Alumiando o Salão, os meninos do trio estão em mais destaque ainda, uma das bandas de forró, do Rio, mais ouvidas e acessadas na internet. Por isso, o Zanzei chamou eles para uma entrevista...


Raquel: Como surgiu o interesse pela música em cada um de vocês?

Rodrigo: Eu sempre gostei de dançar e sempre gostei de forró. Minha paixão começou quando fui pra Itaúnas e vi o Trio Jerimum tocar. O zabumbeiro era muito bom e me inspirou.
Lelei: Eu aos 13 anos cantava no coral da escola, mas aos 15 anos quando acompanhei uma turnê de uma banda de baile no nordeste que tinham vários amigos meus tocando na banda, foi que eu me interessei em tocar e ser músico, eu era uma espécie de roadie, risos, aí comecei a tocar na percussão, foi quando trilhei meus primeiros passos na música. Em 1997 ganhei um violão de um amigo e me interessei demais, pois ouvia muito Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e queria tocar aquelas canções de qualquer jeito. Logo depois me interessei em compor música, minha primeira música foi aos 17 anos.

Fabiano: Acho que a música tem uma peculiaridade. Ela não é escolhida, e sim nos escolhe. Então, desde criança já sentia essa energia, essa vibração tão boa, que partia bem de dentro da alma. Como se uma vontade maior quisesse promover algo. Daí, entre batuques e melodias acho que descobri o dom. Por volta dos nove anos ganhei um violão de presente. Um tio meu de Belo Horizonte, Tio Nilo, foi o responsável pelo presente. Entusiasmado comecei logo a tentar tocar. Lembro-me que a primeira música que toquei por inteiro foi a “Selim (Banquinho da bicicleta)” que a banda “Raimundos” tocava. Comecei a tocar na Paróquia da Comunidade até que o repertório de “músicas mundanas”, como eram chamadas as músicas populares foi crescendo e a vontade de tocá-las também.

Raquel: Há quanto tempo vocês estão juntos? Como foi o processo de formação do trio?

Lelei: Bom, estamos juntos há pouco mais de três anos começamos no final de setembro de 2005, mas o primeiro show oficial foi no dia 08/12/2005 na Casa dos Forrozeiros e ficou essa data sendo nossa data oficial de aniversário. O Processo de formação do trio deu-se da seguinte forma, eu conheci o Rodrigo (Cutia) na Feira de São Cristóvão, onde fazíamos uns “arrumadinhos” (arrumadinho é quando alguns músicos amigos se reúnem e tocam, sem ensaio, sem compromisso, só por diversão). Um certo dia eu estava com o Rodrigo e o Nato que era o sanfoneiro e o produtor da Casa dos Forrozeiros viu a gente fazendo o forró, ficou encantado e nos convidou para fazer uma apresentação na casa dele, uma canja. Deu certo, foi bacana demais, o povo vibrava com o novo trio que surgia no forró carioca, mas o Nato nas véspera de nossa estréia oficial saiu do trio, foi quando o Rodrigo comentou que tinha um amigo de Ipatinga que também tocava sanfona e era muito bom, foi ai que o Fabiano surgiu, abraçou a causa e veio de mala e cuia pro Rio de Janeiro formar com Rodrigo e eu o Trio Candieiro. De lá pra cá estamos juntos há mais de 3 anos alumiando os salões cariocas.
Raquel: Vocês sempre trabalharam com música? Como foi optar pela carreira artística?

Rodrigo: Eu na verdade divido minha carreira artística com a de caldeireiro, trabalho com música e alguns lances de industria tipo a Petrobrás.
Lelei: Risos. Nem sempre, música entra em nossa vida através de um hobby e torna-se profissão com o passar dos tempos. Eu aos 12 anos vendia suco de fruta na praia, aos 15 vendia salgados nas ruas de minha cidade Florânia (RN), já fui atendente do Mc'donalds, joguei futebol, era goleiro do América de Natal dos 16 aos 18 anos. Por incrível que pareça já fui modelo, desfilei em passarela, risos, época boa aquela! Trabalhei por seis anos em uma empresa de material médico hospitala,r era o responsável técnico da empresa, mas a música sempre presente em paralelo na minha vida, minha paixão por compor e por música era grande, daí em 2005 sai da empresa e decidi me dedicar somente a música e hoje graças a Deus vivo dela.
Fabiano: Minha vida era basicamente estudar. Trabalhava ajudando a família, em casa mesmo. Aos 16 anos de idade fiz parte da primeira banda, onde toquei violão. “Mania que mexe”, este era o nome do grupo onde o repertório era voltado para as músicas principais da rádio local. Surgiu então uma vontade de escolher músicas do gênero “forró universitário” e por isso, uma sanfona teria que ser introduzida no grupo. Na maioria dos casos, sanfoneiro é a peça rara da banda (risos), e por isso a procura por sanfoneiro foi em vão. O jeito mesmo era formar um sanfoneiro dentro da banda e como eu tocava um instrumento harmônico, sobrou pra mim (risos). Comecei a fazer aulas com o professor paraibano “Neguinho do acordeom”, em Ipatinga/MG. Depois de três meses, fui me acostumando a tocar as músicas e a estudar músicas novas sozinho. Foi então que começou a fase autodidata em que estou até hoje. Optar pela música foi praticamente natural porque já estava tão acostumado com a idéia de tocar que quando o dinheiro começou a entrar achei foi ótimo... Afinal já estava fazendo o que gosto mesmo!
Raquel: Como vocês vêem a aceitação do carioca em relação o forró? É um ritmo que atrai um publico segmentado ou o carioca não tem essa barreira cultural com o nordeste, por exemplo. Existe espaço para o forró, na cidade conhecida pelo samba? Vocês enfrentaram algum tipo de dificuldade nesse sentido?

Fabiano: Uma amiga nossa, Mariana Mello, cita sempre uma fase que acho que resume o nosso povo brasileiro, dependendo da interpretação de cada palavra da frase. Em questão: _“Todo funkeiro é forrozeiro!”. Se você analisar bem, todo funkeiro gosta de forró, gosta de samba, gosta de axé, MPB, jazz, e assim por diante. Brasileiro que é brasileiro gosta de música. Este é meu ponto de vista. Se começar um tambor a bater, que seja um só tambor, logo as pernas captam o sinal e já querem balançar, se bater, e remexer... Isso é mais do que comum. Acredito que o Rio é a terra de todos os ritmos, pois em 3 anos de convivência com este povo pude notar que todos gostam de música. Quanto ao público, essa questão é tão relativa, pois atrair público significa muito mais do que pessoas estarem presentes em um determinado show. Ao meu ver, atrair público quer dizer, entreter, animar, contar história e ser ouvido, fazer com que as pessoas queiram mais daquele sentimento que estão vivendo, fazer com que as pessoas busquem mais informações a respeito dos músicos, das músicas, das poesias, letras, arranjos, fonogramas, produções e por aí vai. Então, creio que a “Cidade do samba” está aberta para vários outros estilos sim. Se formos contabilizar a quantidade de casas de shows que abriram espaço para o forró, especialmente o forró pé de serra... Dentro do período de um ano, serão totalizadas mais de 30 casas de shows em que sua programação agregaram, o ritmo nordestino... Isso pra mim é mais do que uma conquista é uma força que nos move no sentido de sempre estar valorizando a cultura popular e reforçando as raízes em que somos alicerçados.
Lelei: Quando falamos sobre forró muita gente acha que é coisa de gente velha e brega, daí quando vão ao forró descobrem que lá tem gente de todas as idades e principalmente a juventude em massa, mulheres lindas, homens nem tanto, risos, mas enfim um público que se respeita e que ama dançar coladinho. Por optar pelo forró pelo menos eu, nunca percebi nenhum tipo de preconceito, pelo contrário a galera até respeita muito por optarmos por tocar um estilo de música que é esquecido da mídia.

Raquel: O “Alumiando o Salão” é o primeiro álbum de vocês. Como foi a experiência de lançar o primeiro álbum do Trio?
Fabiano: O álbum “Alumiando o Salão”, com músicas próprias, todas inéditas, exceto a faixa um. Um CD recheado de sentimento, feito com todo carinho e dedicação, explorando as vertentes da música brasileira. Do baião ao samba, o CD traz uma trajetória que a maioria dos dançarinos de forró pé-de-serra adoram, porque ao mesmo tempo que as musicas são dançantes, possuem letras que tratam de assuntos do cotidiano. Nesse CD as composições ficaram por minha conta e do Lelei. Quem assina do design gráfico sou eu. Enfim, muito forró na veia, muito swing brasileiro, muita alegria em todos os sentidos. O lançamento foi na verdade o estopim para o processo de gravação do CD completo. Cinco musicas já haviam sido e para fechar o CD, faltavam outras 8. Um convite da baiana Áurea, que produz um evento em Salvador. Preparamos tudo em um tempo recorde, pois estávamos com a viagem marcada.. Queríamos porque queríamos fazer o pré-lançamento na Bahia. Porque além de ser um estado que estimamos, também temos muitos amigos e principalmente, sentíamos que a energia do povo baiano nos traria bons fluidos e realmente foi o que aconteceu. Desde então a média de shows do Trio cresce 200%. Por isso temos uma gratidão pela Áurea, Forró Massapé, Flor Serena e toda a massa forrozeira da Bahia.
Raquel: Todas as composições são próprias. Como é o processo de criação das letras e melodias? Qual é a principal fonte de “inspiração” para vocês?
Fabiano: Todas são de autoria de “Fabiano Santana e Lelei Jr.”. As parcerias normalmente são feitas com letras do Lelei e arranjos meus. Temos algumas composições que fazemos juntos também, produzindo letra e melodia juntos. Inspiração vem de todas as fontes boas da vida. As vezes num barco, num dia bonito, numa noite gostosa de luar ou então repentinamente vem aquela vontade de escrever e só parar depois de ter a composição pronta.
Lelei: O processo de composição é uma incógnita, um dia tive um sonho com meu avô cantando uma canção a qual desconhecia, acordei emocionado, pois tinha uma ligação muito grande com meu avô, mas nem dei bola pra música, mas tive o mesmo sonho três vezes seguidas e comecei a pesquisar essa música e vi que não havia nada parecido ou igual. Cheguei a conclusão que era uma música sendo revelada para mim através de um sonho, fiz toda a poesia da música e o Fabiano colocou a música na poesia e essa canção é hoje nosso grande sucesso, a música nossa que mais nos deu prêmios e reconhecimento que é "Sertão Potiguá".

Raquel: O segundo CD já está a caminho, é isso mesmo? Como está o processo de produção do novo álbum? O que o segundo trabalho de vocês vai trazer para os forrozeiros?
Fabiano: O CD está a caminho sim e com uma novidade ainda maior. Queremos gravar também o DVD para ser incluso num Box. Isso engrandecerá nosso trabalho e com certeza os forrozeiros irão adorar. Além disso, temos outra surpresa que deixará ainda mais rico esse Box, mas como disse, é surpresa...
Raquel: No show de vocês, além de canções próprias, vocês tocam músicas de outros artistas. Como vocês fazem essa seleção? Vocês acham importante uma banda/artista ter a versatilidade de oferecer ao público além de seus trabalhos o de outros artistas? Isso ajuda a difundir um ritmo ou estilo musical?
Fabiano: Procuramos variar o repertório e tentar agradar ao Maximo o publico, que merece todo nosso carinho e respeito. A seleção é simples, assim como fazemos o que gostamos, também tocamos musicas que gostamos. Ainda que haja uma ou outra mais querida. Nosso repertorio agrada aos três e com certeza aos que ouvem. Pensamos o seguinte:“O que eu gostaria que um arista fizesse num palco?” Depois disso começamos a nos imaginar assim e daí vem a inspiração para nossos figurinos, nossas musicas, repertorio, brincadeiras e dinâmicas. Isso é importante, pois o publico é exigente e sabemos que quanto maior nossa dedicação, maior será a resposta a nosso favor.
Raquel: No nordeste, em toda esquina se vê forró, cordel, frevo, elementos gastronômicos e religiosos que ainda se mantém restritos aos estados nordestinos. Na opinião de vocês, por que isso acontece?
Fabiano: Eu acredito que cada estado possui uma identidade, e para se manter uma cultura às vezes é necessário muita luta no sentido de estar sempre valorizando a memória, o trabalho de conservação, restauração e preservação de certos elementos físicos e intelectuais.No Brasil existem poucos grupos que cuidam dessa nossa parte história, porém, estes poucos procuram sempre fazer o melhor possível. Temos por exemplo Antônio de Nóbrega, Os grupos de Maracatu. Recentemente conheci um incentivador da cultura popular, Arundo Terceiro, em Angra dos Reis/RJ. E acredito que a força dessa nossa cultura sempre tenderá a aparecer com maior força nos locais onde foram originadas. Outra questão é a política/econômica, onde o turismo move um capital nessas regiões... Exemplo; pelourinho tem um fluxo de turistas que sempre se renova... E pra fazer um pelourinho em cada estado acredito ser muito difícil (risos).Mas acho que muita coisa mudou pra melhor nos últimos anos, pois cada vez mais uma parte jovem da população se interessa por estas áreas... Eu por exemplo tenho 22 anos e sou intimamente ligado ao movimento do forró pé de serra... Além disso, fizemos parte da comitiva de divulgação do evento “Brasil Rural Contemporâneo 2008, Rio de Janeiro/RJ” e nosso trabalho era sair tocando forró, acusticamente, pelas ruas da capital do Rio. Nossa turma era formada por aproximadamente 20 pessoas, onde representávamos exatamente esses itens da pergunta, elementos que simbolizavam Lampião, Maria bonita, Bumba meu Boi, Boneco de Olinda, perna de pau e comidas típicas foram distribuídas à população. Também faço parte da comissão que organizará o 1° Encontro Nacional de Cultura Popular e Folclore de Ilha Grande/RJ, que será com certeza um dos maiores eventos do gênero. Ou seja, com carinho conseguimos trabalhar pra divulgar nossa cultura...
Raquel: Se vocês pudessem escolher alguma coisa, qualquer coisa, tipicamente nordestina para apresentar aos cariocas, o que seria?
Lelei: Nossa seriam tantas! (Risos). Água de Cacimba (aquele gostinho de barro é tudo). Carne fresca do boi que foi abatido de manhã eu como ele no almoço.Leite direto da teta da vaca no copo (Ah que saudade do meu sitio fechado) (risos).As festas das fazendas com os velhinhos tocando viola sanfona e batendo na colher.Os bandos de Maracatu, todas aquelas danças tipicamente nordestina com a pegada de nordestino mesmo é bem bacana. Apesar de adorar os cariocas tocando maracatu é Bárbaro! Enfim só algumas para não ficar extenso demais (risos)
JOGO RÁPIDO
Livro: Bíblia (R)
CD: Trio Candieiro “Alumiando o Salão” (risos) e Titãs Acústico MTV (F)
Música: Andarilho (R)
Compositor: Petrúcio Amorim (F)
Instrumento: Violão (L)
Cantora: Elba Ramalho (R)
Cantor: Ney Matogrosso – Um verdadeiro interprete (L)
Show: Dream Theater (F)
Cidade: Florânia – minha pacata cidadezinha no RN (L)
Time: Cruzeiro (R)
Cor: Azul (L)
Atleta: Fabiano (sanfona pesa.... risos) (L)
Filme: Na América (F)
Ator: Wagner Moura (L)
Atriz: Suzana Vieira (R)
Programa de TV: Conversa Afinada (F)
Escola de Samba: Portela (F)
Ídolo: Deus e meus pais (L)
Sonho: Filhos (L)
Viagem: Castelfidardo, Itália (F)
Palavras ao Zanzei:
Lelei: Alô alô pessoal do Zanzei. Primeiramente queria agradecer não somente em nome do Trio Candieiro, mas sim, de toda a classe forrozeira, dos músicos que fazem esse movimento crescer cada dia que passa, agradecemos a vocês o espaço aberto para não só para o nosso público conhecer um pouco mais sobre nós, mas também quem não conhece forró, passar a conhecer. Obrigado pelo carinho que tiveram conosco principalmente a Raquel, minha querida mil beijocas pra ti seriam poucas, mas valeu pela força, viva o Forró Pé de Serra e Viva ao Zanzei que abriu esse espaço pra gente também, um mega beijo e até a próxima.
Sentiu vontade de “bater coxa” também?
24/03 – Bar do Seu Tomé
27/03 – R9
29/03 – Six
Mais detalhes no site: www.triocandieiro.com.br